Saturday, August 24, 2013

Final da Conversa

ELE: - Para estar com você tem que realmente te amar! ELA: - E se não for por amor, será por qual motivo? Para o amor não há peso... No amor o outro jamais será insustentável... O amor é como uma pluma, mesmo sendo uma tonelada.

Atualização Querida

A escrita tem que fluir, deve ser algo espontâneo, como as necessidades fisiológicas, sei que há outras metáforas, mas quis essa. Escrevo quando meu coração pulsa de forma anormal, quando a cabeça flutua, sem itinerário. Escrevo quando a emoção bate, quando o desejo prevalece. A escrita não deve ser obrigada, assim ela perde seu encanto. Ela deve vir, como um abraço que acontece depois de uma longa ausência junto com o desejo ardente do reencontro; como quem sacia a fome, com desejo de comer; como quem corre pelas escadas para sentir o perfume da primeira flor da primavera, tão esperada; como quem deseja ressuscitar um ente querido. A escrita tem ser como um parto, voluntário porque sua chegada é involuntária. Sem cobranças, por favor. Este é um espaço nosso, mas respeitem a minha porcentagem. Eu escrevo quando meu interior grita, quando ele arde, não suportaria escrever meramente para 'atulaizar'. A atualização deve ser verdadeira. A atualização deve ser querida como foi esta explicação. Eu me respeito muito para permitir que funcione sob cobranças.

A Adúltera

Mais uma quinta chega. Ela acorda, sem felicidade, mas sorrindo. Para onde caminha carrega aquele aparelho, e o espia de vez em quando, a qualquer instante poderá surgir uma notícia, um tal imprevisto, mas isso é só precaução porque as quintas parecem benzidas, diria um padre, tudo dá certo. Uma cartomante avisou que ela não mudasse o dia da semana, porque ela tem sorte nas quintas. Vá entender essas previsões, e ao menos existem, será? Bom, só se sabe que nas quintas tudo parece escorrer e flutuar, até os afazeres de casa, que ela rejeita, tudo escoa muito rápido. Imagina se ela gostasse de velar um bolo, faria mil guloseimas nas quintas, porque além da quinta ser dia de bons fluidos, ela está leve, sorrindo para o vento. O que será que paira nas quintas? As vizinhas sempre comentam que ela está feliz, sorrindo, meio à toa, isso nas quintas. Ela responde com o silêncio, carregado de reserva e discrição. Uma adúltera sempre é séria. Não qualquer adúltera, mas aquela que compreende sua condição. Essa não sorri fácil que é para não dá espaço para rumores, sejam lá quais forem estes. Uma adúltera compreendida sobre si mesma, ela não quer dá espaços para falas desnecessárias, ela prefere o silêncio. O silêncio salva uma adúltera, porque a ausência de respostas é um abismo escuro, onde não se encontram certezas. O silêncio pode ser e pode não ser isso que ronda a cabeça da vizinha peçonhenta. O silêncio é a escuridão onde se vê tudo e não se detecta absolutamente nada. Voltando as quintas, sem fugir do silêncio. Nas quintas, ela está mais silenciosa do que de costume, o marido até percebe, mas ela continua meio muda. Isto revela bem o conjugue, ele a enxerga sim, a ama sim, a presenteia sim, a elogia sim, nem por isso as quintas, para ela, deixam de ser dias necessários. De fato, possui um esposo atencioso, mas é adúltera. Uma adúltera que tem tardes de luxúria às quintas. Ah, quintas inefáveis! Cheias de fantasia, prazer e um pouco de culpa para não se tornar nitidamente perversa. Sabendo da sua condição, nas quintas até o ritmo do passo muda, ela anda devagar, como se a pressa denunciasse o desejo dela de encontrar o outro. Na rua, seu olhar é focado na parte frontal do seu itinerário, não ousa olhar para os lados, sabe-se lá se um conhecido está à espreita. Ela sabe que sua discrição desmesurada a entrega, ela sabe que sua reserva desmedida denuncia algo. Algo que ninguém tem a coragem de lhe falar porque ela é excessivamente séria. De repente alguém até já a flagrou, mas desacredita no que viu, tamanho é a sisudez da adúltera. Tantas vezes a adúltera desejou ser flagrada por um corajoso, que não se intimidasse com a máscara densa da face dela. Alguém que a sacudisse sobre ela mesma, pois quando o sol se põe nas quintas, ela sempre retorna para casa, satisfeita porque saciou seus fantasmas, mas algo fica sempre pendente, a sua luta por não desejar este desejo de adulterar.

Amor e suas tensões

Tomava banho e escrevia mil livros. Tinha diversos rascunhos na caixola. Vários rolos de frases feitas e desfeitas e misturadas. E um só tema, o amor. Sim, o tal amor. Perverso, às vezes. Safado. Desequilibrado. Antiquado e moderno. Eis o amor. Um amor que trouxera flores e dores. Ah, todo amor tem dor e por ser amor, se encarrega de amar também, nem que seja um pouco, ou que ame errado para uma das partes, mas é amor. Sim, amor é amor. E amor é fatal. E foi por este sentimento que ela, na noite anterior, encontrava-se em um bar a engolir vodkas e mais vodkas. Sabia que nenhum gole daqueles a faria feliz ou roubaria sua dor, mas o racional pouco importava ali. A mentira sempre vale mais em uma hora dessas. Nem o amor é racional. Imagina a dor que ele causa. A dor de amor. Ah, tenha paciência. O que quer o amor? Ser amado não quer não, pensava aquela que havia sido entregue por ela mesma nas mãos daquele macho charmoso. O charme é tão fatal quanto o amor. Dois vigaristas que te roubam de você mesmo. E é tão bom amar. Dizem que é lindo amar. Quem não quer um amor levante a mão. Todos riem e ninguém admite a solidão que o amor traz consigo, porque a alegria de amar pesa mais. Sim, pesa mais. Então, as lágrimas escorriam e não havia vergonha da multidão não, chorava com toda a pureza do sofrimento, parecia ter o desejo de se lavar do amor. E quem disse que ele vai embora assim. O amor é obstinado e o ser humano mais equilibrado é capaz de perder a paciência com tal sentir. Chorava, soluçava e engolia inúmeras doses. Tanto líquido jorrado, pelos olhos, pelas garrafas, pelos copos, pela fonte da praça. Pensava em aproveitar tanto fluido para algo útil. E o amor, é inútil? Queria ver um fruto decente do amor. Já quase se avistava os raios solares. No êxtase do torpor, discou. Sem resultados, óbvio. Um amor que machuca, foge. Amor covarde, mas amor. Por que me deixou ver? Este era o questionamento que ela queria ter deixado na caixa postal dele. Ela não queria ter visto. Ver é fatal. Ela um dia ouvira uma conversa que o seu amor estava envolvido em um relacionamento extraconjugal e opinou por não dá atenção, mas ver é pesado. Quando você simplesmente ouve algo, você faz sua escolha se realmente quer ver esse som. Mas ver com os olhos é outra coisa, é de uma nitidez inigualável e uma dor incomparável. É quase uma bofetada surpresa. Apunhalada pelas costas, sentia-se assim. O amor bate. E este adorável sentimento a surrou com a visão de uma fotografia. Na foto, ele enlaçava ela que sorria mostrando toda a arcada dentária. Belo sorriso, vamos admitir. A moça cuspia a felicidade através do belo sorriso.Na imagem, o casal denunciava um contentamento juvenil, chegando a ser comovente. O amor é patético. O fato é que a morena está feliz com o amor dela. O mesmo amor da outra que chorava. A foto parecia uma dançarina de bordel, exibindo-se, mostrando-se, oferencendo-se. Oferecia para ela a verdade. Denunciava o triângulo. Quem é que faz questão da verdade aqui? Todo mundo quer ser é amado. Latejava em sua cabeça uma discussão debatida em monólogo. Havia parado de escorrer lágrimas e ela já não olhava para o telefone. Aquilo fora o desequilíbrio do impacto que a desilusão causa. Agora carregava o olhar mais perdido que antes, agudamente ofuscado. E ela pensava que não precisava se deixar de ser amada pelo macho charmoso, pelo macho que ela amava. É, o amor tem essas tensões.